terça-feira, 31 de março de 2009

Lina Bo Bardi

O acervo de peças coletadas no nordeste brasileiro pela arquiteta Lina Bo Bardi, que estava guardado desde 1965, é reaberto para o público a partir desta terça (17), no Centro Cultural Solar Ferrão, no Pelourinho, em Salvador. A mostra "Fragmentos: Artefatos populares, o olhar de Lina Bo Bardi" reúne mais de 800 peças entre utensílios de madeira, objetos de barro, pilões, santos e objetos de candomblé que resistiram às mudanças e viagens da coleção original, que chegou a contar 2 mil itens.
"Fragmentos: Artefatos populares, o olhar de Lina Bo Bardi"
Onde: Centro Cultural Solar Ferrão
Rua Gregório de Mattos, 45, Pelourinho,
Salvador/BA
Tel. (71) 3116-6467
Quando: Abertura dia 17/03, às 19h.
Exposição de longa duração.
Visitação de terça a sexta, das 10h às 18h;
finais de semana e feriados, das 13h às 17h
Quanto: Grátis

Lina Bo Bardi (1914/1992), arquiteta italiana que estabeleceu-se no Brasil em 1946 e é conhecida por projetos como o Masp e o Sesc Pompéia, em São Paulo, mudou-se para a Bahia no final dos anos 1950 e começou a pesquisar a arte popular nordestina. "Lina considerou essas peças como algo contemporâneo, como objetos de design, num pensamento livre dos vícios e preconceitos acadêmicos e europeus que reinavam na época", afirma o diretor de museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Daniel Rangel.
Logo no início do período de ditadura militar (a partir de 1964, depois da deposição do presidente João Goulart), Lina Bo Bardi foi exonerada do cargo de diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia por ter se negado a liberar o foyer do teatro Castro Alves (onde estava temporariamente instalado o MAM) para uma exposição de armamento de guerra. Um ano mais tarde, a exposição "Nordeste do Brasil" (com partes do acervo que será exibido agora em Salvador) foi impedida de estrear na Galeria de Arte Moderna, em Roma.Após o episódio, recortes da coleção de Lina Bo Bardi chegaram a ser expostos em mostras como "A Mão do Povo Brasileiro", de 1969, no Museu de Arte de São Paulo, e "Design no Brasil, História e Realidade", de 1982, no Sesc Pompéia, ambas em São Paulo.A mostra "Fragmentos: Artefatos populares, o olhar de Lina Bo Bardi" tem vernissage no próprio Solar Ferrão, às 19h de terça (17). Antes, às 17h, acontece a mesa redonda "Sobre Lina", com a participação de André Vainer e Marcelo Ferraz, arquitetos e colaboradores de Lina Bo Bardi, e da diretora do Instituto Lina e P.M. Bardi, Anna Carboncini. O evento é gratuito e será realizado na sala Multiuso do Solar Ferrão. (Entretenimentos UOL)



Museu de Arte Moderna de São Paulo - MASP


A Casa de Vidro
Morumbi, São Paulo




SESC Fábrica Pompéia
São Paulo





domingo, 29 de março de 2009

MARC CHAGALL, Exposição


"O mundo mágico de Marc Chagall - o Sonho e a Vida"
2/junho a 2/agosto - Museu Nacional de Belas Artes (RJ)
18/agosto a 18/outubro - Casa Fiat (BH)


A exposição “O mundo mágico de Marc Chagall - o Sonho e a Vida” será a primeira exposição de grande porte no país de Marc Chagall, 52 anos depois da sala especial realizada na IV Bienal.Pintor, gravador e vitralista bielorusso, Marc Chagall nasceu em Vitebsk em 7 de julho de 1887. Iniciou-se em pintura no ateliê de um retratista local. Em 1908 estudou na Academia de Arte de São Petersburgo e, de volta à cidade natal, conheceu Bella, de quem pintou um retrato em 1909 (Kunstmuseum, Basiléia). Retornou a São Petersburgo e de lá seguiu para Paris em 1910, ligando-se a Blaise Cendrars, Max Jacob e Apollinaire e aos pintores Delaunay, Modigliani e La Fresnay.

Cantiques IV, Marc Chagall

Marc Chagall trabalhou intensamente para integrar seu mundo de fantasias na linguagem moderna, derivada do fauvismo e do cubismo. Obras importantes desse período são “Moi et le village” (1911; “Eu e a aldeia”), “L’Autoportrait aux sept doigts” (1911; “Auto-retrato com sete dedos”), “La Femme enceinte” (1912-1913; “Mulher grávida”), “Le Soldat boit” (1912; “O soldado bebe”).
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Quase todos esses títulos foram dados por Cendrars. Coube a Apollinaire escolher as telas que Chagall expôs em 1914 em Berlim, com grande influência sobre o expressionismo de pós-guerra. Quando explodiu a guerra, Chagall, de volta à Rússia, foi mobilizado, mas ficou em São Petersburgo. Em 1915 casou-se com Bella. Irrompendo a revolução socialista de 1917, foi nomeado comissário de belas-artes do governo de Vitebsk. Fundou uma escola aberta a todas as tendências, entrou em conflito com Malevitch e acabou demitindo-se.
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Na mesma época, pintou murais para a sala e o foyer do teatro judeu de Moscou. Retornou a Paris em 1922. Por encomenda do editor Ambroise Vollard, ilustrou a Bíblia e executou 96 gravuras para uma edição de Almas mortas de Gogol, só publicada em 1949.
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Em 1927 ilustrou também as Fábulas de La Fontaine (cem gravuras publicadas em 1952). São dessa fase suas primeiras paisagens, bem como quadros que renovaram o tema lírico das flores. Em 1931 Chagall visitou a Palestina e a Síria e publicou Ma vie (Minha vida), autobiografia ilustrada por gravuras que já haviam aparecido em Berlim em 1923. Em 1933 realizou grande retrospectiva no Kunstmuseum de Basiléia.
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A partir de 1935 o clima de guerra e de perseguição aos judeus repercutiu em sua pintura, na qual os elementos dramáticos, sociais e religiosos passaram a tomar vulto. Em 1941 foi para os Estados Unidos, onde em 1944 morreu Bella Chagall, causando-lhe grande depressão. Mergulhou de novo no mundo das evocações e concluiu o quadro “Autour d’elle” (”Em torno dela”, Musée National d’Art Moderne, Paris), iniciado em 1937 e que se tornou uma síntese de sua temática. Em 1945 pintou grandes telas de fundo, cenários para o balé O pássaro de fogo, de Stravinski.
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Regressou definitivamente à França em 1947. Em 1950 criou vitrais para a sinagoga da universidade hebraica de Jerusalém. Os vitrais para a catedral de Metz, dos muitos que concebeu a seguir, datam de 1958. Chagall esteve várias vezes em Israel nessa época, desincumbindo-se de várias encomendas.
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Na França e nos Estados Unidos, além de vitrais, realizou mosaicos, cerâmicas, murais e projetos de tapeçaria.
Em 1973 foi inaugurado em Nice o Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall.
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Em 1977 o governo francês agraciou-o com a grã-cruz da Legião de Honra.
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Reconhecido como um dos maiores pintores do Século 20, Marc Chagall morreu em Saint-Paul de Vence, no sul da França, em 28 de março de 1985.

sábado, 28 de março de 2009

"COLÓQUIO CLARICE LISPECTOR", Casa Fernando Pessoa, Lisboa

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"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho". Clarice Lispector


Livro de Nádia Battella Gotlib acompanha a trajetória da escritora por meio de 800 imagens – a maioria inédita – e esclarece aspectos da história de sua produção literária e jornalística.
"Clarice Fotobiografia"
Nádia Battella Gotlib
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Edusp, 656 págs.

maiores informaçoes:

quarta-feira, 25 de março de 2009

CASA AMARELO



Localizado na área histórica de Santa Tereza,
o Hotel Casa Amarelo combina a autenticidade de um edifício espaçoso de 1904 com a elegância do design francês contemporâneo e a hospitalidade brasileira. Criado pelas estilistas da marca francesa "Robert le Héros", este encantador hotel-boutique oferece uma atmosfera pacífica e espaçosa, quartos exclusivos com tetos altos e muita luz natural.

O Hotel Casa Amarelo está situado numa área tranquila do Rio de Janeiro, perto do Teatro Municipal e de casas maravilhosas.


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1001 MANEIRAS DE PREPARAR BACALHAU

Bacalhau com broa

Bacalhau à Brás

Bacalhau espiritual

Actualmente o "Livro das 1001-Maneiras" está editado em formato CD (modo HTML) e contém o primeiro volume com 501 receitas, juntamente com um ficheiro em formato PDF para impressão.

DESIGNER GUILD

Tricia Guild é o nome por detrás desta conceituada empresa britânica de têxteis para a casa.

sexta-feira, 20 de março de 2009

GALINHO DE BARCELOS

Barcelos é uma cidade situada na região do Minho, ao norte de Portugal, repleta de monumentos, sendo o maior deles um simples galinho.
A curiosa lenda do galo data do século XVI. Segundo ela, os habitantes da região estavam alarmados com um crime cometido ali e que ficara sem explicação. Portanto, o criminoso era desconhecido. Certo dia surgiu um suspeito que foi preso pelas autoridades locais. O pobre homem jurava inocência e dizia estar peregrinando a San Tiago de Compostela para cumprir uma promessa, mas não convenceu e foi condenado à forca. Antes da execução, o homem pediu que o levassem à presença do juiz. Na casa do magistrado estava acontecendo uma grande festa, com muitos convidados, e diante de tantas pessoas reafirmou sua inocência e apontou para um galo assado que estava sobre a mesa exclamando:
- "É tão certo eu ser inocente, como é certo este galo cantar quando me enforcarem".
Diante de tal situação, ninguém comeu o galo assado e o que parecia impossível, tornou-se realidade, pois no momento do enforcamento, o galo levantou-se e cantou. O juiz correu até o local da forca e livrou o pobre inocente da morte. Alguns anos se passaram e o homem retornou a Barcelos e ergueu o monumento do Galo de Barcelos em louvor a San Tiago e Nossa Senhora.




Os moradores da cidade perpetuam a história modelando galinhos de barro, simples e coloridos.
O Galinho de Barcelos se tornou um símbolo de felicidade, honestidade, integridade, confiança e honra. É presença marcante nas festas tradicionais e nas vitrines portuguesas, sendo oferecido aos turistas como o souvenir mais popular de Portugal.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Hotéis em Portugal - Dicas

Ribeira - Porto Porto

Ponte 25 de Abril - Lisboa Lisboa


Sagres - Algarve

Alentejo

LISBOA
Rent4days
Oferece um novo conceito de apartamentos de alta qualidade em Lisboa. É uma agência imobiliária especializada no aluguel de curta estadia e gestão de imóveis. A maioria dos apartamentos estão situados no centro da cidade e estão completamente renovados,decorados e equipados. Para reservar,apenas tem que pôr as datas da sua estadia no calendário e descobrirá que apartamentos tem disponiveis .
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HF FÉNIX GARDEN HOTEL
O HF Fénix Garden é uma nóvel unidade de 3 estrelas que possui uma localização sem paralelo na Praça de Marquês de Pombal, no coração de Lisboa. Os 94 quartos estão completamente equipados com ar condicionado, telefone directo, TV cabo, entre uma gama de serviços completa das quais destacamos um bar, snack-bar, serviço Wi-Fi, Babysitting, lavandaria e parque privativo
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DOM CARLOS LIBERTY
Inaugurado em 2004, o Dom Carlos Liberty está em sintonia com as mais recentes tecnologias e requisitos da hotelaria contemporânea. Com um design de interiores moderno e de extremo bom gosto, que alia conforto e funcionalidade sem esquecer a tradição do bom atendimento, o Dom Carlos Liberty destaca-se pelo cuidado permanente com o serviço e pelos seus preços extremamente competitivos.Situado no centro financeiro e comercial da cidade, ao lado da Avenida da Liberdade e do Metro Marquês de Pombal, o Dom Carlos Liberty apresenta o Dom Carlos Lounge, um novo conceito de espaço integrado, que no pequeno-almoço oferece um requintado buffet, que se transforma após o meio-dia num agradável Lounge com biblioteca, imprensa escrita gratuita, tv plasma, música ambiente de qualidade, acesso internet wifi grátis e um serviço de bebidas e snacks em exclusivo sistema self-service.
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SANA REX HOTEL
Bem no Centro da Cidade, com uma magnifica vista sobre o Parque Eduardo VIII e o Rio Tejo. Numa curta caminhada descubra as mais belas zonas históricas da cidade de Lisboa. Dispondo de 59 Quartos e 9 Suites, no SANA Rex sentirá o conforto verdadeiramente acolhedor que fará da sua estadia um momento.
http://www.sanahotels.com/gca/index.php?id=375&bigId=103&lng=en
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Outra dica é o Booking Hotéis, para toda a Europa.
Neste site é possível reservar com preços mais baratos que os praticados nos hoteis.

sábado, 14 de março de 2009

Tu, só tu, puro amor,

Episódio de Dona Inês de Castro
Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135
Luís de Camões

Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.

Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?

Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:

(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:

ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)

Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?

Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.

Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.

As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.
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Delícias de Portugal

Pastéis de Belém
História
Em 1837, em Belém, próximo ao Mosteiro dos Jerónimos, numa tentativa de subsistência, os clérigos do mosteiro puseram à venda numa loja precisamente uns pastéis de nata.
Nessa época, a zona de Belém ficava longe da cidade de
Lisboa, e o seu acesso era assegurado por barcos a vapor. A presença do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém atraíam inúmeros turistas que depressa se habituaram aos pastéis de Belém. A receita destes, transmitida e exclusivamente conhecida pelos mestres pasteleiros que os fabricam artesanalmente na Oficina do Segredo, mantém-se igual até aos dias de hoje. A Oficina do Segredo na Fábrica, dos Pastéis de Belém, guarda a antiga receita secreta da confecção e preparação dos verdadeiros Pastéis de nata – os Pastéis de Belém.
Os mestres pasteleiros da Oficina do Segredo, são os poucos detentores da receita, assinam um termo de responsabilidade e fazem um juramento em como se comprometem a não divulgar a receita.
Actualmente, em qualquer café de Lisboa é possível comprar pastéis de nata, provenientes da indústria de pastelaria, mas os originais continuam a ser os da pastelaria de Belém (apenas estes podem ser denominados Pastéis de Belém), em
Lisboa, que preservam na sua secular existência o segredo e o saber da sua confecção.

Colchas de Castelo Branco




De inspiração oriental, as colchas de Castelo Branco são conhecidas, pelo menos, a partir de meados do século XVI. De constituição semelhante às colchas de Toledo e de Guadalupe, foram durante séculos a dignidade do enxoval de qualquer noiva desta região, fosse ela plebeia ou nobre.Bordadas com fio de seda em pano de linho, os seus elementos decorativos têm simbologia singular. Assim, a albarrada representa o lar e a árvore da vida; os pássaros juntos os desposados, quando não estão representados por simbólicos bonecos; os encadeados, a cadeia indestrutível do matrimónio; os cravos representam o Homem, e as rosas a Mulher; os lírios, a Virtude; os corações, o Amor; as gavinhas, a Amizade; a hera, a firme afeição; os jasmins, a virtude da castidade; as romãs e as pinhas, a solidariedade e união da família; os frangos e os galaripos, a prole bendita; e os lagartos, os amuletos da felicidade tão desejada.
Encontram-se em exposição e fabrico no Museu Tavares Proença Júnior e loja da Vila,
Rua da Misericórdia - Castelo Branco

sexta-feira, 6 de março de 2009

Les Causeuses, Camille Claudel




Les distractions


"Les distractions ne nous affligent pas seulement quand nous nous essayons à la méditation ou à la contemplation formelles, mais aussi, et encore plus dangereusement, au cours de notre vie active et quotidienne. Beaucoup d'entre ceux qui entreprennent des exercices spirituels, qu'ils soient yoga ou chrétiens, ont trop fréquemment tendance à borner leurs efforts à la concentration de l'esprit strictement pendant les heures qu'ils consacrent effectivement à la meditation. Ils oublient qu'il est possible à un homme ou à une femme d'atteindre, pendant la méditation, à un degré élevé de concentration mentale et même à une sorte de peseudo-extase subjectivement satisfaisante, tou en restant, au fond, un moi non régénéré. Il n'est pas rare de rencontrer des gens qui passent des heures, chaque jour, à effectuer des exercices spirituels, et qui, entre temps, font preuve d'autant de dépit, de préjugés, de jalousie, de cupidité et de bêtise, que le plus "aspirituel" de leurs prochains. La raison en est que les gens de cette sorte ne font alcun effort pour adapter aux exigences de la vie ordinaire ces pratiques dont ils font usage aux heures de leur méditation formelle. Il n'y a lá, bien entendu, rien de surprenant. Il est beaucoup plus facile d'entrapercevoir la réalité lorsqu'on se trouve dans les conditions de la méditation formelle, que de "pratiquer la présence de Dieu" au milieu des moments d'ennui, des agacements et des tentations constantes de la vie familiale et professionnelle. Ce que le mystique anglais, Benoît Fitch, apelle "l'anéantissement actif", et que consiste à mourir à son moi en le noyant en Dieu, à tout instant de la journée, est beaucoup plus difficile à réaliser que "l'anéantissement passif" dans l'oraison mentale. La différence entre les deux formes de l'anéantissement du moi est analogue à la différence entre le travail scientifique effectué dans les conditions du laboratoire et le travail scientifique effectué sur le terrain. Comme le sait tout homme de science, un vaste gouffre sépare l'obtention de résultats au laboratoire, de l'application de ses découvertes au monde désordonné et déconcertant qui s'étend hors de ses murs. Le travail au laboratoire et le travail sur le terrain sont également nécessaires dans la science. D'une façon analogue, dans la praticque de la vie unitive, le travail de laboratoire qu'est la méditation formelle doit être complété par ce qu'on peut appeler le "mysticisme appliqué" pendant les heures d'activité quotidienne. C'est pour cette raison que je me propose de diviser cet article en deux parties, dont la première traitera des distractions aux moments du recueillement, et la seconde, des imbécillités obscurcissantes et obstructrices de la vie quotidienne". Aldous Huxley

Le Passant du bout du monde


"Arrivé au seuil des quatre-vingt-dix ans, un homme qui veut se souvenir de son enfance doit prendre garde à ne pas trahir la réalité de ce qu'elle fut. J'ai vu des enfants de trois ans faire et dire des choses que je n'ai rencontrées que chez de grands artistes ou des poètes. Qui recueille ces oeuvres d'art? Personne, bien sûr, pas même la mémoire de ces enfants. N'est-il pas grotesque qu'un vieil homme tente de se souvenir de l'enfant qu'il a été? Essayons donc de descendre de ce rocher abrupt". Francisco Coloane

terça-feira, 3 de março de 2009

TABACARIA, Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei que moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos